Texto sobre o espetáculo Os Lesados, com texto de Rafael Martins, e direção de Yuri Yamamoto.
Apresentado no teatro Dragão do Mar no dia 03/03/2012.
A lógica do capitalista exige que o indivíduo seja funcional para a sociedade, que produza riqueza acumulações de bem, obrigando a deixar qualquer tipo de legado. Todos esses conceitos estão fora do espetáculo Os Lesados. A peça nos leva não por caminho de um universo imaginário cheio de cor e luzes, com personagens fascinantes com suas evoluções dramáticas, frases de efeito, nem como uma fábula para a aprendermos uma lição qualquer.
Os lesados é em preto e branco, acinzentada como a cor do concreto que constroem as cidades, como a memória da historia da cidade de Fortaleza que perde seus espaços históricos demolidos, e assim foi feito com a residência de Rodolfo Teófilo. Lugares que viram pó, ou simplesmente perdem a cor. Remeto-me principalmente a casa do Português na Avenida João Pessoa.
Essa falta de cor ou esse cinza característico indica a uma vida sem cor, sem um fato de alegria, sem criatividade ou vivência. A cor incomoda, pois escolher uma, significa que a vida está ali por menor que ela seja. Nessa estética a peça ambienta as personagens condicionadas a uma rotina massacrante, assassina, no entanto pior do que o condicionamento é a aceitação das personagens em relação as suas vidas. A acomodação em relação aos seus espaços , que simplesmente apenas as cabem, negando a possibilidade de outra coisa ali poder ser inserida. Mas se eles negam novas probabilidades, logos aquelas personagens são donas das suas vidas? Penso, logo existo. Assim nos falou o filósofo.
Em seu prólogo foi quase imediata à referência do filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos, assim veio a minha mente motivada pela cor e a repetição dos movimentos.
A arte de interpretar se dá pela expressão do rosto, através do olho, por sua vez o olhar é o mesmo, não muda, está sempre olhando a mesa coisa, os mesmos fatos, da mesma maneira, com mesmo desenho, como olhos que não estão ligados ao corpo, mas a um objeto inanimado, o objeto óculos que vira olhar, que não se move, negando a observação e reflexão.
Mas as personagens assistem a vida passar, amarrados uns aos outros, viciados aos seus objetos, as suas ações, a repetir mesmos atos do mesmo dia, da mesma maneira.
A peça questiona o homem moderno, e seus caminhos ou a falta de seus caminhos o texto que dialoga com Esperando Godot, escrito por Samuel Becket, dramaturgo e escritor irlandês. Nos Lesados, a narrativa conta um dia daqueles quatro personagens, que estão esperando algo acontecer, vendo a vida passar, de maneira passiva, no texto do irlandês, as personagens esperam por Godot, que não virá, ou não vem, ou se quer existe.
O que nos diz o teatro com esse espetáculo?
Sensibiliza as pessoas para a reflexão sobre os problemas da vida moderna?
Ou simplesmente pode ser que não queira falar nada?
Os Lesados nos fala sobre os caminhos da vida, falando o tempo inteiro que a vida passa e estamos a olha-la por cima, constituindo um voyeur dos fatos, negando-se ao controle das coisas, seja por omissão, ou por preguiça. A vida passa, mas o teatro não fala com aqueles, que mesmo de maneira maniqueísta, estão a inventar a vida, nada obstante a omissão também é um crime.
E me pergunto que se o teatro ao falar, citar e criticar, dos homens quem se negam a construir a vida, ao invés propor coisas novas, ser inovador, inventivo, não está se omitindo?
No entanto nos expõe essas personagens para sabermos o quanto, tantas vezes, somos medíocres!
Bruno Leonardo.